O que Michael Jackson nunca esqueceu

Sempre ouvi as pessoas dizendo que Michael renegava suas origens. Sobre como quis transformar seu rosto, mudar sua cor e se afastar de tudo que o lembrasse daquele garoto de Gary, Indiana.

   Não é novidade para ninguém que Michael teve sua infância “roubada” trabalhando desde a tenra idade enquanto outras crianças brincavam livremente usufruindo do anonimato que lhes pertenciam como um presente precioso que Michael desejava, mas não podia ter.  

   Com o passar do tempo Michael Jackson tentou ir em busca daquilo que não teve, construindo seu sonho em Neverland. Como sabemos, nem todas as pessoas tiveram a sensibilidade de entender seu ponto, seus sonhos e a vontade de fazer o bem ao próximo. E claro os aproveitadores com suas acusações infundadas criaram uma rede de mentiras e desconfiança da qual Michael conseguiu provar sua inocência embora muita gente ainda não acredite nela.

   Mas o ponto é que a mídia sempre tentou de certa forma separar Michael de Michael. Como? Fazendo comparações piegas do pequeno MJ na época dos Jackson 5 ou na era Thriller com as outras eras como se ele não fosse mais a mesma pessoa, como se ele não quisesse ser, pintando um falso retrato triste “do que ele se tornou”.

  Outro exemplo é o “documentário” Living With Michael Jackson em que podemos ver Martin Bashir em Neverland segundo suas próprias palavras querendo entender como “O gênio da música e da dança chegou à condição surreal que se encontra hoje” e para isso ele começou a “procurar respostas no inicio de tudo” enquanto na tela aparecia um porta retrato de Michael criança e em seguida um quadro dele rodeado por anjos remetendo ao clipe de You Are Not Alone. Ou seja, Michael e lembranças de sua trajetória.

   Em seguida Michael ouve seu primeiro single Big Boy enquanto responde perguntas sobre a descoberta de seu talento musical. Outro ponto é quando eles assistem uma apresentação de I Want You Back no The Ed Sullivan Show enquanto Michael fala de seu dom e Martin o observa se assistindo como alguém que procura uma “resposta” do Rei do Pop, seja uma “desconexão” entre o Michael na tela e o que estava ao seu lado ou talvez um traço de incômodo de Michael ao se ver criança.

   Oprah Winfrey em sua entrevista com MJ pergunta sobre o boato de Michael querer que um garoto branco o interpretasse quando criança em um comercial de refrigerante enquanto Michael deixa claro que essa é a história mais ridícula e terrível que já ouviu e que tem orgulho de sua cor. E essa é só mais uma tentativa de querer separar Michael de Michael.

   Embora MJ pudesse muito bem querer “fugir” de lembranças dolorosas ele de certa forma sempre tentou expor a importância de Neverland para si, explicando como foi sua “infância” em música como Childhood e buscando alegrar e ajudar milhares de crianças ao redor do mundo.

   Em suas turnês Michael sempre cantou o Medley dos Jackson 5 (I Want You Back/Stop The Love You Save/l’ll Be There) com projeções no telão de sua fase no grupo com seus irmãos, aquela fase que juram que ele odiava e queria esquecer. Existem outros exemplos como o pequeno Michael retratado na capa do álbum Dangerous, da sua voz ainda criança em uma entrevista no início da Música History, Sua visita a Gary, Indiana trazendo à tona como sua trajetória foi importante para construção de sua carreira de sucesso e como ele se orgulhava disso.

      Não digo que Michael adorava ou que deveria adorar cada momento de sua “infância”, mas é notável como ele transformou suas dores em arte e como depois de adulto quis alimentar e alegrar sua criança interior, criança que não teve culpa das situações ruins pela que passou e soube agraciar o mundo com sua música, dança e filantropia.

   Não adianta querer separar Michael de Michael. Você pode se esquecer de tudo o que aconteceu em sua vida, mas o mais importante é saber o quão incrível ele se tornou mantendo a determinação, coração, bondade e sorriso, trilhando sua História com tudo aquilo que ele nunca esqueceu.

Pâmela Lopes